As Recompensas do Mérito Verdadeiro
Virtude
Quando pensamos em virtudes, o que nos vem à
cabeça? Talvez, um conjunto de valores criados por nossas bolhas sociais,
coisas valorizadas na atualidade, atitudes ou pensamentos da moda. Com base
nestas crenças, nosso "certo" e "errado" se transformam em fazeres habituais,
incorporando aos nossos resultados as consequências deste certo ou errado.
Mas, quando a concepção de virtude está
conectada a algo mais profundo, dentro de nossa consciência, surgem conflitos ao
aplicá-la dentro de nossa prática habitual, como algo que se encaixa à nossa essência
(que preza pela busca da verdade e da justiça), em contradição com nossas
crenças de momento. Isto significa que precisamos refletir se o "certo" e "errado" que o
mundo nos impõe é, necessariamente, o mesmo "certo" e "errado" dentro de nós mesmos, de verdade.
Assim, chegamos a um ponto de inflexão
importante que nos exige uma perspectiva honesta, corajosa e sincera
sobre o significado de "ser humano", em um sentido mais amplo de existência. Quando invertemos uma
tendência errática em nível comportamental, atitudinal e ético para algo mais próximo da virtude humana, podemos alcançar este significado e sentido mais plenos.
Certo e errado momentâneos
Neste contexto, um ponto de inflexão não é o
mesmo que uma inversão de valores que apenas substitui uma tirania (valores antigos)
por outra (militância vazia/contracultura destrutiva), que acaba desmantelando valores
éticos humanos. Este ponto de inflexão se efetiva por uma ruptura guiada pela retidão e sabedoria, mais alinhados à nossa essência.
Por outro lado, encontrar um ponto de ruptura das construções e desconstruções erráticas é um grande exercício cognitivo que exige muita
reflexão, autenticidade e respeito próprio. Este é o custo que também inclui uma visão crítica contra o imediatismo, a manipulação e o
egocentrismo, os quais constituem padrões comportamentais da sociedade competitiva, onde todos nós estamos inseridos. Por isto, rompimentos são necessários, mas não acontecem de
imediato, senão quando a virtude prevalece.
Existe uma força interior e uma sabedoria que alimentam as nossas virtudes e todos nós temos acesso a estes elementos. A leitura e o estudo são alguns dos caminhos que podem reforçar nossas virtudes. Entretanto, o conhecimento em si não nos fornece uma receita pronta de certo e errado e precisa ser complementado pela vivência, onde encontramos a sabedoria.
Independência do pensamento
Boa parte de nossa aprendizagem envolve erros na vida, porém, esta parte deveria ser tão valorizada quanto os nossos acertos! Sob esta perspectiva, sempre estamos aprendendo na vida pois, na realidade, nossa compreensão do que é certo ou errado evolui, conforme a percepção de cada um de nós muda com o tempo. O que nos conduz a esta
evolução são nossas virtudes, como por exemplo, a humildade para reconhecermos tanto aquilo que erramos
quanto aquilo que acertamos, com a consciência de que são passageiros.
Teremos sempre algo a aprender e não somos
obrigados a nascer sabendo tudo. O problema é quando, passivamente, nos deixamos levar por
ensinamentos erráticos, tendenciosos que nos cegam quanto às virtudes humanas. Assim, voltemos ao questionamento: devemos obedecer às crenças de momento ou
às virtudes constituídas em nossa essência?
Precisamos ter autoconhecimento
suficiente para sermos livres para pensar por nós mesmos. Por exemplo, onde ficam as virtudes quando a
capacidade humana para fazer mais e melhor, passa a ser uma simples ferramenta de
disputa ou quando nossa capacidade de amar e fazer amizades se tornam um jogo de trocas? Afinal, a ética
humana é algo de caráter incondicional ou condicional?
Se roubar fosse algo naturalizado em uma
sociedade, então esta crença nos levaria a roubar sem peso na consciência? Este
e tantos outros exemplos de inversão de valores são os caminhos erráticos que a
humanidade está sujeita! Será que é fácil encontrar alguém não competitivo,
altruísta e honesto atualmente? Como nos incluímos nesta questão?
Diante de uma oportunidade de lucro fácil, de
um privilégio, de uma posição social somos sempre virtuosos? Aqueles que já
percorreram o caminho da virtude nunca foram tachados de ingênuos ou até mesmo,
verdadeiros bobos? Quantos de nós arriscaria perder a reputação de espertalhão?
O mérito da virtude
Quando observamos as métricas da
meritocracia, onde os resultados são baseados em quantidades e números, encontramos um exemplo didático entre merecimento "com" ou "sem" virtude. Alcançar métricas, em qualquer circunstância, pressupõe um merecimento por alguma recompensa. A virtude não pede recompensas nem vende valores!
Podemos também perceber algumas inconsistências na meritocracia, tão aplaudida na sociedade de mercado, que nos fazem crer na idéia de que o sucesso é algo relacionado a métricas alcançadas. Isto faz as pessoas acreditarem que a meritocracia é um caminho para o sucesso material e até para a felicidade. Mas é importante frisar que o mérito
verdadeiro não tem essa relação direta com o sucesso, mas com a presença ativa de
um sacrifício virtuoso que tem relação com valores éticos.
Por isto, sempre viveremos em um conflito entre crenças meritocráticas e o mérito da virtude, pois é o mesmo que colocar um espelho diante de nós mesmos, ao fazermos as nossas escolhas na vida. Ninguém nos ensina isto, a não ser quando aprendemos
com os próprios erros e acertos, ao longo de nossas vidas!
Os frutos da virtude
Se a meritocracia é uma promessa de crescimento pessoal, apostando no individualismo e na competitividade, mas que na admissão das pessoas não considera os diferentes pontos de partida para cada um, então sua aceitação depende de crenças próprias para se sustentar. Mas, toda pessoa tem acesso a virtudes humanas, que apesar da natural falibilidade humana, joga uma luz sobre o que realmente é justo e digno.
Assim vivemos situações que em meio à construção e à desconstrução do que é certo ou errado, somos constantemente testados diante da cruz e da espada. De qualquer forma, há compensações nas virtudes que podem nos trazem crescimento e desenvolvimento pessoal verdadeiros:
a) As virtudes preenchem nosso vazio
existencial;
b) A virtude tem o custo do verdadeiro mérito
que ninguém nos rouba;
c) A virtude pode ser passada para as
gerações futuras como legado de valor;
d) A virtude anda junto com a sabedoria;
e) A virtude reforça valores éticos;
f) A virtude não tem pressa;
g) Não precisamos ser perfeitos para usarmos
virtudes;
h) A virtude exige esforço verdadeiro,
sacrifício e autenticidade;
i) Ninguém é virtuoso em tudo, a todo tempo,
o que nos exige resiliência.
Conclusão
A virtude reside na essência humana que preza
pela busca da verdade e da justiça, frequentemente entrando em conflito com as
crenças superficiais impostas pelas bolhas sociais.
Alcançar a virtude exige um ponto de inflexão
e uma ruptura ética, guiados pela sabedoria e retidão, o que demanda esforço,
sacrifício e a rejeição de padrões como o imediatismo e o egocentrismo.
Embora este caminho tenha um custo, ele
garante o mérito verdadeiro—uma recompensa intrínseca que ninguém rouba,
preenche o vazio existencial e serve como um legado de valor.
Assim, a verdadeira compensação entre erros e
acertos é a aprendizagem, um processo contínuo que nos exige reflexão para
fazermos nossas escolhas de forma autêntica.

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