O Altruísmo como Fonte da
Resiliência Humana
Juventude em conflito
Algo
que a vivência nos proporciona é um conhecimento de como lidar com nossas
necessidades, desejos e preocupações. Em um mundo não tão distante, contávamos
mais com nós mesmos, mesmo que limitados e menos informados e, também, com bem
menos recursos tecnológicos. Isto mudou bastante, ao nos colocarmos no lugar da
juventude de hoje, que possuem muito mais recursos. Entretanto, parece que isto
não lhes serve para lidar com os mesmos problemas existenciais, muito menos, com
os deles próprios.
Uma
vez que lucro se tornou o grande orientador existencial da máquina de acumulação
de riquezas, ao mesmo tempo que viabilizou o extravasamento dos desejos
mundanos, também criou muitos problemas. As pessoas estão mais sujeitas ao
cansaço mental, ao adoecimento e às crises existenciais devido ao bombardeio
das seduções do mundo moderno, onde é “preciso” acreditar em um sucesso ilusório
que, como todos nós desconfiamos, não passa de um embuste feito para justificar
o processo de acúmulo material, o qual obviamente jamais estará nas mãos de todos!
Nossos
jovens não estão sendo mais preparados para se tornarem adultos, conscientes
para construírem seus caminhos fazendo mais e melhor. Isto é, quando chegam ao
mundo do consumo, são bombardeados com ideais e militâncias associados a
conceitos de sucesso, no mínimo, suspeitos! Nem lhes é dado a possibilidade de se
transformarem em coparticipantes da construção de um mundo melhor. Seus sonhos não
interessam a este mundo posto, pois podem conter ideais subversivos contra aqueles
que sustentam o pragmatismo, o cinismo e o reducionismo sobre o potencial
humano!
Irresponsabilidade do presente
Será
que erramos tanto em nosso caminho de desenvolvimento como civilização? Qual é
o sentido e significado para o ato de “fazermos mais e melhor” se já atingimos
um aparente esgotamento dos grandes ideais de progresso? Este mundo confortável
que ajudamos a construir para nossos jovens está deixando a todos sem
expectativas! Avançar e melhorar a condição de vida sempre foi o ideal que nos
levava a acreditar no crescimento de todos e para todos. Só que não foi assim
que aconteceu! Se muito, se tornou um catalizador de egocentrismos e ganâncias
pois mossa juventude, mesmo buscando o progresso, é desviada para o acúmulo
individualista, na contramão de um ideal de crescimento coletivo.
A
falta de esperança é justamente uma consequência de nosso modelo de
desenvolvimento, que está promovendo um gradual isolamento das pessoas, sem
maior ênfase às conexões humanas reais e necessárias, que permitem o fluxo da
sabedoria e a transmissão de experiências.
A
instantaneidade de informações e a criação de ilusões em massa tem sido o foco
de nossa sociedade engenhosamente agrupada em nichos de mercado, onde o
marketing passa a individualizar e conduzir consumidores para produtos
específicos, desde bens materiais até símbolos de identidade ideológica. Este
sistema depende somente da alienação acrítica das pessoas para se manterem como reprodutoras das crenças da sociedade global do consumismo e mais nada!
Aí é
que se abre uma janela para nossa reflexão, na tentativa de resgatar a
importância do ato de fazer mais e melhor, em um mundo tão pouco interessado
nisso. De fato, se mantivermos este estilo de vida moderna, jamais sairemos deste
ciclo de troca de nossa força de trabalho por uma mesmice cotidiana, que
chamamos de vida.
Fazer mais e melhor
Quem
tem espaço e tempo hoje, para investir sua energia vital em uma interação real
com outros seres humanos? Quantos de nós já discerniu o “fazer mais e melhor”
utilitarista do “fazer mais e melhor” altruísta? Incorporamos a ética humana
como topo da pirâmide do crescimento existencial?
Podemos
fugir das ideologias separatistas baseadas na competição e no desespero que
valida o “salve-se quem puder” ou a cultura utilitarista de vender a si mesmo
pela premissa do: “quanto eu ganho com isto?”. A perspectiva altruísta contempla
a possibilidade da semeadura de melhorias para o mundo futuro, desapegada do imediatismo
e do egoísmo de uma única geração humana, ou seja, acompanha um conceito mais
elevado de ética humana. Este movimento ativo é necessário para reverter o
isolamento promovido pelo modelo de desenvolvimento e restaurar o ideal de
vida.
Talvez
já tenham sido formulados pensamentos, ao longo da história humana, que já
esclareceram algo sobre o sentido e o significado da vida, que nos são muito
caros para serem sacrificados a troco de migalhas dadas pelo mundo, que é mais
mesquinho do que gostamos de acreditar!
De
qualquer forma, é uma ótima provocação enunciarmos nosso conhecimento sobre a
existência do outro lado da moeda, mesmo que escolhamos uma das faces para
acreditar, de forma prática. Mas, o fato de não escolhermos a outra face, não
significa que ela não exista! Quem sabe, seu conhecimento seja exatamente o que
precisamos para termos esperança na mudança de rumos! Nada que é ruim ou bom,
dura para sempre!
Estamos prontos?
Por
acaso existiu na história alguma conquista humana em que não tenha sido exigido
das pessoas, um mínimo de sacrifício? Como podemos ter esperança em uma
realidade melhor sem fazer mais e melhor, sem algum tipo de sacrifício?
Neste
contexto, o sacrifício que valha a pena de fato, pode ser aquele que alinha
nosso propósito a uma vida que faça mais sentido. Mas, para isso é imprescindível sair
de nossas bolhas e nos desapegarmos da zona de conforto para nos desconectarmos
das soluções e receitas prontas ilusórias. Isso teria a ver com o sacrifício de
nossas crenças irrefletidas e com o desafio de sermos um pouco mais nós mesmos,
diante da opinião externa.
De
qualquer forma, a ressignificação de sacrifício pessoal nos exige uma tomada de
partido por causas mais humanistas e resiliência para lutar por soluções e
correções de rota, no sentido de preservar a dignidade humana, diante das
mazelas deste mundo, a começar por nossa própria consciência. Talvez, os
sacrifícios humanos voltados para a continuidade saudável de nossas futuras
gerações, seja de fato, a condição necessária para nos engajarmos pelas causas
humanistas e no sacrifício intergeracional, ligando a consciência individual à
ação coletiva.
Sacrifício intergeracional
Se podemos
contar com a esperança, é porque a história já nos provou que o maior propósito
de um ser humano está além de si mesmo! Este pensamento é contrário a toda
lógica do egocentrismo e individualismo, do culto ao presente e ao contexto das
gerações mais recentes. A sabedoria é algo vivencial, que não pode ser
transmitida apenas por telas e redes sociais.
A
interação entre diferentes gerações é uma conexão humana necessária, porque
permite o compartilhamento de vivências, de lições e de sabedoria acumulada. Para
nossos jovens, saber sobre o outro lado da moeda, que pode ser o conhecimento
que os habilite a fazer mais e melhor pelas pessoas e por um novo mundo, é o
municiamento que lhes falta para poderem viver mais plenamente!
E assim,
talvez possamos admitir que esta interação geracional, constitui um destino
comum a todos nós, como um “mesmo barco”, onde não podemos pensar somente em
nossos próprios umbigos e precisamos remar junto com todos. Por mais ilógico
que possa parecer, sob a perspectiva individualista predominante, fazer mais e
melhor seria empunhar os remos, em um movimento conjunto de todos para todos.
Não
podemos negar o sofrimento e as perdas humanas que nos trouxeram a estes novos
tempos. O que precisamos lembrar é que foi o pensamento altruísta e a ética
humana, motivados pela esperança na humanidade, que justificaram muitos
sacrifícios históricos. A grande fonte da resiliência humana, ainda é o
altruísmo.
Conclusão
Conclui-se
que a superação do isolamento e da falta de esperança, causados pela lógica do lucro
e do egocentrismo, reside no sacrifício intergeracional. A grande fonte da
resiliência humana é o altruísmo e a ética humana, motivadas pela esperança na
humanidade, as quais justificaram muitos sacrifícios históricos.
Para
alcançar um propósito além de si mesmo, o indivíduo deve fazer um sacrifício
pessoal — sair da zona de conforto e abandonar crenças irrefletidas — o que se
torna a condição necessária para se engajar em causas humanistas e no sacrifício
intergeracional. Esta interação geracional e o pensamento altruísta restauram o
conceito de um "destino comum", onde é preciso "remar junto com
todos" em um "movimento conjunto de todos para todos".

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