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PENSAMENTO COLETIVO: O Desafio da Autonomia em Tempos de Conformidade

PENSAMENTO COLETIVO

 

A falta de coragem dos tempos modernos

 

Armadilha cultural

Sair de nosso porto seguro já é em si um ato de coragem! O risco de vida está em cada respirar. Chegar ao nosso destino diário pode ser um feito, uma conquista! Isto porque, embora estejamos menos expostos aos perigos dos elementos naturais, por outro lado, criamos uma sociedade extremamente perigosa para nós mesmos!

Por isto, esta presente crítica não incide sobre as formas de autoproteção dos agrupamentos humanos, pois nossa espécie sempre enfrentou perigos reais. Os maiores perigos e riscos do mundo moderno envolvem mais nosso próximo do que qualquer outro ser vivo. Assim, desenvolvemos uma forma de sobrevivência pela construção de barreiras culturais, psicológicas e ideológicas para nos protegermos de nós mesmos, e acabamos trocando nossos sonhos pela segurança relativa das bolhas sociais.

Uma manipulação da sociedade moderna é adicionar uma necessidade artificial de segurança coletiva, junto a um sentimento de pertencimento a homogeneidades culturalmente vinculadas a uma única crença, com consequente falta de sentido! O que menos faz sentido é a própria divisão dentro da raça humana, onde atingimos o limite ao separar gêneros por bolhas ideológicas.

Se somos negros, devemos seguir os movimentos antirracismo, se somos heterossexuais devemos ser machistas ou feministas e assim por diante. Coitados daqueles que não concordarem com sua bolha de segurança! É isto que esta crítica denomina de esvaziamento de sentido, pois, mesmo que sejamos culturalmente classificados e embalados como um produto A, B ou C, continuamos sendo seres humanos, com a mesma essência e destino imprevisível neste mundo.

Neste mundo de ilusões, ainda somos explorados dentro de nossas bolhas como nichos de mercado, que limitam nossa capacidade de pensamento individual, o que nos torna consumidores de “soluções perfeitas” para nossas necessidades “especiais”. Nossas novas gerações são induzidas a se identificarem às causas de bolhas estabelecidas, como se isso fosse seu ideário de vida, mas no fim só aumenta a insegurança de nossos jovens.

 

A insipidez do pensamento coletivo

Se o objeto desta reflexão é um sinal de evolução ou involução humana, ainda não temos resposta, pois a jornada da humanidade nunca foi e provavelmente nunca será um mar de rosas. Cada geração vive conforme sua realidade histórica, o que inclui a ignorância peculiar de sua época!

A crítica está sobre o efeito de anulação do pensamento individual e ao recrudescimento do "isolamento e a disputa entre grupos humanos", ou seja, a anulação cultural de nossa capacidade de pensamento individual e a submissão às irracionalidades dos confinamentos grupais. Isto tem um efeito de restrição da perspectiva individual e de nossa universalidade cognitiva mais profunda! O problema do pensamento grupal é que menospreza as contribuições do pensamento humano, em seu nível mais elevado, e isto acaba tornando nossas vidas insípidas!

Neste contexto, embora seja legítima a tentativa humana de lidar com o medo (superar o próprio medo) e a fragilidade da vida, a cultura da segurança coletiva é ilusória, porque ao deixarmos de pensarmos por nós mesmos, estamos dando carta branca ao que o mundo diz que precisamos ser, como devemos agir e o que precisamos sonhar. Não há nada mais perigoso do que isto, pois a dependência do pensamento coletivo amplifica e mercantiliza o sofrimento (vitimização), em vez de resolvê-lo genuinamente.

 

A segurança da humanidade é uma falácia

Não vamos encontrar apoio, incentivo e nem encorajamento para sairmos de uma bolha de segurança, pois ninguém sabe o que pode acontecer de bom. Este pessimismo, muitas vezes cínico, tem lá suas bases concretas para que nunca saiamos de nossas bolhas de segurança. Um dos motivos é a estigmatização do verdadeiro mérito da autenticidade. (Experimentemos pensar diferente de nossas bolhas e veremos o significado da afirmação anterior).

De fato, o ato de sair da linha e das regras comportamentais de um ambiente dito como seguro, provavelmente, poderá dar errado quando baseado em pura estupidez ou instinto suicida, mas não é sempre que alguém que supere o próprio medo para sair de seu esconderijo de segurança relativa, pode ser considerado um louco. Assim, sob esta perspectiva, ser anormal é um ato corajoso que nos permite sermos quem somos, sem pedir autorização para isso!

A normalidade coletiva das bolhas sociais não se concretiza em real segurança existencial, pois sempre se manterão questões contraditórias. Mas se pudéssemos nos livrar de preconceitos e buscar respostas próprias, como poderíamos lidar com as seguintes questões, comuns a qualquer agrupamento social?

a) Ninguém sabe e pode dizer com exatidão o que o destino guarda para cada um de nós.

b) O que a vida precisa nos ensinar, ensinará independentemente se estamos escondidos ou não em nossas bolhas sociais.

c) A existência em si é um risco de vida.

d) Nosso mundo não é e nunca será um parque de diversões.

e) As soluções humanas sempre geram novos problemas.

f) A ciência e a tecnologia moderna nunca conseguirão automatizar nosso destino.

g) A completude humana está além de nossa limitada compreensão sobre a vida.

i) Nosso controle sobre a vida e a natureza sempre será parcial.

j) Tudo na vida passa, inclusive nossas crenças.

 

CONCLUSÃO

Conclui-se que a busca por segurança nas bolhas sociais é uma armadilha cultural que limita a capacidade de pensamento individual. Embora reconheça-se a legítima tentativa humana de lidar com o medo e a fragilidade da vida, o pensamento coletivo é criticado por gerar uma segurança ilusória, por menosprezar as contribuições do pensamento humano em seu nível mais elevado e, consequentemente, tornar as vidas insípidas. A verdadeira segurança existencial não reside na normalidade coletiva, mas sim no ato corajoso de ser autêntico e individual, aceitando que a existência em si é um risco de vida e que as soluções humanas sempre geram novos problemas.


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