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UMA FOLHA QUE CAI

UMA FOLHA QUE CAI

 A Brevidade da Folha e o Fluxo da Vida

 

As folhas caem

Quando as estações mudam, em alguns lugares, as árvores liberam suas folhas para se protegerem da perda de água. Elas entram em dormência até que o período de seca e frio passe, para recomeçar um novo ciclo vegetativo na primavera.

Um outro processo natural também ocorre, após a folha atingir o solo. Ela é rica em nutrientes absorvidos, que pela sua decomposição, devolve ao solo fertilizando as camadas superficiais, devolvendo a matéria orgânica necessária para a vida do solo sobreviver e construir seus espaços entre as minúsculas partículas que se agregam em torrões estáveis, permeáveis à infiltração da água e do ar.

Neste processo existe uma funcionalidade e sincronicidade que dependem da ação harmoniosa entre cada parte deste universo – planta – solo – ambiente, onde o ciclo natural ocorre a seu próprio tempo, por meio das leis naturais que produzem as matas e os ecossistemas naturais. Assim, a natureza flui e nos inspira como exemplo do que estaria mais próximo da vida plena!

Mas, talvez, o ser humano não permita por si mesmo, que as forças naturais ajam em harmonia tão perfeita assim. Embora estejamos destinados a cumprir um ciclo e uma função, em um universo existencial, precisamos refletir sobre nossas dificuldades em criar raízes, fertilizar o solo e produzir uma grande floresta humana, harmônica e perfeita.

Em um nível filosófico: assim como as folhas das árvores caem por um motivo inequívoco, existe algum propósito em termos uma consciência sobre os mecanismos naturais que regem nossa própria existência humana? Por que nos foi dado um certo poder para intervir na naturalidade da vida, se somos imperfeitos?

Por isso, façamos uma analogia sobre a queda das folhas e como isto poderia recair sobre o significado de nossas próprias vidas!

 

O que permite que as folhas caiam

Nosso saber sempre será limitado a poucos detalhes que produzem a vida em si. Nossa existência, por exemplo, não se faz apenas de alimentos materiais. Precisamos alimentar nossas almas com alegrias, tristezas, solidão, sofrimentos, surpresas e dúvidas para nos desenvolvermos integralmente. Estes seriam os nutrientes, nem sempre doces, mas também nem sempre amargos!

O tempo em que estes nutrientes fertilizam o solo de nossa existência terrena, ligados a este mundo dependem do fluxo de nossas próprias vidas. Os caminhos que escolhemos são como o traçado de nossas raízes existenciais, a procura de experiências, desbravando desafios e condições específicas de sobrevivência, conforme o lugar onde fomos “semeados”.

Assim como o frio e a seca (o gatilho para a queda da folha) são períodos de estresse que levam à dormência e ao fortalecimento para o florescimento futuro das árvores, os sofrimentos humanos são períodos de "dormência" essenciais para que o próximo período de florescimento chegue. Quanto tempo dura cada estação que nos fornecerá alegrias? Quanto tempo esperaremos para que as chuvas limpem o amargor de nossas tristezas? Quando será o próximo período de florescimento em nossas vidas?

Contudo, nosso ciclo pode ser afetado por nossa própria toxicidade humana! Isto pode impedir que exerçamos forças contrárias à transformação da grande floresta, chamada humanidade. Será que a “planta” chamada ser humano também tem uma funcionalidade negativa e tóxica? Esta toxicidade é equivalente, no ciclo vegetal, à poluição externa que não permite que a decomposição natural ocorra.

Que bom seria se não houvesse destruição, venenos e contaminações, pragas e doenças que abreviam nossas missões específicas na “floresta humana”. Nossas raízes na terra, poderiam significar a fertilização da existência humana neste mundo, para produzir e reproduzir ciclicamente, sem fim definido, mais folhas, mais sementes e mais frutos!

Mas, se os venenos são produtos da própria "floresta humana," esta reflexão nos levaria à seguinte pergunta: "Será que temos o direito de interromper este ciclo?"

 

O tempo das folhas é fugaz

Perto do tempo de vida de uma árvore, a vida de uma folha é um sopro. Dentro de uma floresta formada, quase nem é percebida! Não é assim também com a passagem de cada um de nós, neste mundo? Mas, se o nosso tempo é curto, isso não nos levaria a buscar enraizamentos fortes, entrelaçamentos mais densos que pudessem enriquecer não só nossa existência, mas também, das próximas gerações?

Aí está a beleza das folhas enquanto caem! Por um momento, muito fugaz, espalham cores e brilhos, antecipando seu fim, embelezando e modificando a paisagem e o ambiente onde foram originadas. Podem cair mais longe ainda, se o vento do destino as levarem a lugares mais distantes.

Será que nosso tempo de existência é suficiente para adquirirmos consciência sobre nosso papel no grande ciclo da vida? Será que nos é possível atingir entendimento sobre o que podemos deixar para este mundo, após retornarmos, literalmente, à terra? Esta é a diferença de nossa dimensão humana de existência, embora, tenhamos o mesmo fim das folhas das árvores! Isto é a vida fluindo, pelo tempo e espaço para cada parte viva deste mundo!

 

O fluxo da vida

Simplesmente existir em paz, em harmonia e com o forte sentimento de que somos parte integrante e importante no fluxo da vida, já é motivo de gratidão! Sempre que observarmos uma folha caindo, reflitamos sobre a brevidade da vida, a calma e a serenidade melancólica do vento do destino que nos leva aos lugares para onde precisamos ir. Esta entrega e aceitação é fundamental para aproveitar o trajeto, sentir o calor do sol e o frescor da brisa do dia e da noite.

Todos nós, sem exceção, temos nossas trajetórias testemunhadas pelas estrelas, pelas vidas que cruzam nossos caminhos, pelas lágrimas da saudade, pelo calor das amizades e pelos embates que nos fazem planar para mais longe ou para mais perto de nossa origem e essência.

Podemos nos sentir perdidos, por não sabermos quando será a próxima ventania ou tempestade que poderá abreviar nosso tempo, ou mesmo danificar ou ferir nossos frágeis troncos e galhos. Mas, há algo que precisamos cultivar em nossas consciências: precisamos respeitar o fluxo da vida, o fechamento de ciclos, os momentos de partida e aproveitar a aprendizagem no trajeto de nossas próprias quedas, enquanto folhas humanas, algo que não podemos evitar!

Portanto, ao invés de perguntarmos até quando estaremos por aqui, podemos alinhar nossa existência ao fluxo da vida, que nos foi dado para cumprirmos nossa jornada de nascimento, crescimento, florescimento, frutificação e renovação da vida, mesmo após partirmos!

 

Gratidão pelas folhas que caem

Assim, ao observarmos as folhas caindo, estamos presenciando o trajeto das pessoas nesta vida, suas passagens por nossas próprias vidas que, como nós mesmos, deixarão na memória da floresta humana, sua contribuição existencial. Um dia fizemos sombra para refrescar e purificar o ar da vida, um dia abrigamos seres desprotegidos contra os ventos e tempestades, um dia refletimos a luz do sol para dar brilho ao dossel da humanidade.

Humildemente, em silêncio e em profunda paz, retornemos ao solo, para fazer de nossas vidas cansadas pela idade ou pela intensa exposição às intempéries existenciais. Saber que teremos um dia a permissão de cairmos, tal como as verdadeiras folhas das árvores, é saber que nosso momento de cumprirmos nossa função no mundo, um dia chegará ao fim. É uma certeza de que nos despediremos de todas as pessoas, ou elas de nós.

A vida não nos dá muitas opções, mesmo que possamos escolher por onde nossas raízes se firmarão. Contudo, é bom pensar com esta simplicidade e tentar viver toda a beleza de uma existência, em especial, quando estamos conectados a uma força que não nos permite um fim, sem que tenhamos contribuído para formar uma grandiosa floresta.

 

Conclusão

Conclui-se que a existência humana deve alinhar-se ao ciclo natural da folha, que exemplifica a vida plena por sua funcionalidade e sincronicidade.

O propósito intrínsceco à vida é o cumprimento de uma jornada de nascimento, crescimento, florescimento, frutificação e renovação.


Os elementos centrais desta reflexão são:

1. A Brevidade e a Contribuição: Dado que o tempo de vida é fugaz, a consciência humana deve buscar "enraizamentos fortes" e "entrelaçamentos mais densos" para enriquecer a existência própria e das próximas gerações.

2. A Função do Sofrimento: As tristezas e os sofrimentos não são aleatórios, mas sim períodos de 'dormência' essenciais, comparáveis ao frio e à seca que levam ao fortalecimento para o florescimento futuro.

3. A Ameaça da Toxicidade: O ciclo humano é ameaçado pela "toxicidade humana", definida como "o equivalente no ciclo vegetal à poluição externa que não permite que a decomposição natural ocorra", impedindo a fertilização da existência.


Veja o vídeo sobre este texto clicando AQUI

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