Uma visão incomum sobre a velhice
A diferença entre lentidão e retidão
Um dia, ao observar um ancião, percebi que seus
modos eram quase um movimento em câmera lenta. Tudo o que ele fazia era de
forma bem compassada, focada e serena.
Para quem ainda não passou do meio século de vida é algo até engraçado, mas não devemos confundir lentidão com a retidão das pessoas idosas. O problema é que não percebemos que, na verdade, o nosso modo acelerado de ser dos dias atuais é que é a verdadeira anormalidade. Talvez esteja na hora de fazermos alguns questionamentos: Por que tanta pressa, tanta necessidade de correria que nem nossas almas conseguem mais alcançar nossos corpos? Quem disse que a pressa é a maior premissa do bem viver?
As marcas que não podem ser compradas
Ao contrário do que muitos podem pensar, aquele mesmo ancião não tinha grandes posses, não tinha sequer um automóvel em sua garagem.
Sua expressão facial mostrava marcas de uma vida de batalhas e sofrimentos, com
rugas e fortes vincos na face, tal como um guerreiro antigo, com a pele curtida
pelo sol que denunciava sua vida exposta aos elementos naturais.
Quando ele olhava em alguma direção, seu
semblante era tão imponente que, se fosse registrado por uma câmera, até
poderia servir com sua última e bela fotografia. Ele não era muito falante, mas
sua voz era calma e suas palavras eram sempre muito bem medidas e bondosas.
A imponência que só o tempo pode nos dar
Ainda relembrando aquela pessoa, jamais esquecerei seu sorriso autêntico quando
algo o agradava e sua elegância diante de algum desagrado, com aquele jeito
polido e diplomático, próprio das pessoas sábias e pacientes.
Via isso tudo como um resultado de uma vida de
aprendizagem e evolução pessoal, de alguém que nunca perdeu o propósito de sua
alma, ao longo de sua jornada. Ele nunca permitiu que a vida passasse, por
passar.
O que quero destacar nesta descrição é a
naturalidade do envelhecimento que realça uma vida plena, onde a concepção do
que é belo é algo mais profundo, que os olhos não podem ver, mas que nossa alma
anseia atingir também, algum dia.
Quais lições aprendemos das pessoas mais vividas
Pessoas assim, ao entrar em um recinto, causam
uma impressão única, mesmo se estiverem usando bengalas ou estejam apoiadas por
alguém. Elas sabem apreciar belas canções, reconhecem o trabalho mais simples
de quem lhes serve as refeições, brincam e conversam com animais e gracejam com
as brincadeiras dos jovens.
Ao reparar no silêncio respeitoso que se
manifesta quando uma pessoa de idade chega em algum local e observar como as
pessoas abrem passagem para ela, demonstrando respeito e sincera consideração,
percebo, aliviado, que nem tudo está perdido neste mundo.
É preciso pensar diferente para aceitar o avanço da própria idade
Se há algo que podemos ambicionar nesta vida,
sem sombra de dúvida, é poder envelhecer com a graça e a autenticidade que
essas pessoas maravilhosas nos transmitem!
Não há algo mais natural que o avanço de nossas
idades, porém, fazemos deste fenômeno algo indesejável, feio, sem graça.
Talvez o desejo e a perseguição pela juventude eterna seja algo mais antinatural do que pensamos. Em especial, em nível de aparência externa, seja qual for o padrão de beleza deste mundo artificial, cabe sempre um tempo para refletir e perguntar:
Se todos nós vamos envelhecer um dia, por quê
renegar as belas marcas da idade?
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