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INSANIDADES MODERNAS: Da imposição externa à liberdade da reflexão

Insanidades modernas

 

Cuidados com nossa saúde mental

Motivos para refletir

Encontrar paz interior e esperança para estes tempos tão estranhos e cheios de inversões de valores, faz parte de nossos esforços para lidar com o dia a dia e a correria. Temos sempre que resguardar nosso bem-estar, principalmente de incômodos mentais, devido ao absurdo bombardeio do marketing e das ideologias militantes. O mundo moderno não para de criar meias verdades para justificar o avanço do pensamento mercantilista, do utilitarismo desenfreado e das futilidades do consumo.

Assim, se pudéssemos voltar aos tempos menos estressantes, em que longevidade e acúmulo de saberes de vida contavam na sociedade, ainda poderíamos contar com a sabedoria de nossas gerações mais vividas e usufruir do legado de nossos antepassados. Isto porque o que este mundo coloca como realidade é um eterno renovar, uma promessa falsa de mundo sempre novo a cada dia, como se não tivéssemos uma história ao longo do tempo e espaço.

Por isto temos dificuldades cognitivas para fluir com os acontecimentos, com nossos dramas pessoais e com nosso próprio ritmo de aprendizagem. Assim, poderíamos elencar alguns temas atemporais que podem servir de inspiração para momentos de reflexão como: significados, aprendizagens, autoconhecimento, questionamentos e consciência.

 

Reflexão e saúde mental

Mas, se alguém perguntar se há uma consequência útil da reflexão para se resolver problemas da vida, a resposta é não! Isto porque a utilidade da reflexão é algo mais interno do que externo! Não conseguimos mudar uma realidade concreta compartilhada por bilhões de seres humanos, cuja força do pensamento coletivo sustentam crenças e valores. Embora, cada um de nós seja uma fonte poderosa de pensamentos, é muito provável que sempre estejamos cometendo erros em nossos julgamentos, sob a influência de nosso ambiente social, de nossa condição de sobrevivência ou de nossos problemas mais prioritários.

No fundo, a reflexão, longe de provocar uma mudança da realidade externa, tem como objetivo o maior controle de nossas próprias emoções e pensamentos que podem ajudar a desenvolvermos a resiliência, a paciência e a tolerância, a partir de nós mesmos, compreendendo as reações humanas naturais como medos, ansiedades e inconformidades. Isto significa que mesmo que não consigamos transformar o mundo concreto, podemos nos beneficiar com uma voz interior que sempre tem algo a nos dizer ou sinalizar.

Mas qual a importância de nossos pensamentos, se não conseguimos mudar uma realidade? Se nossas reflexões apenas nos levam a uma compreensão de uma realidade, a uma perspectiva de vida de que adianta aprendermos? Mudar um conjunto de pensamentos alinhados a um propósito ou interesse coletivo é possível? A utopia desta ideia não bate frontalmente com o jogo de uma disputa de vontades sem fim?

 

Autodirecionamento pela reflexão

Apesar das incertezas sobre a mudança externa, a perspectiva de vida e a compreensão interna da realidade são benefícios possíveis! Para não sofrermos tanto com o estresse e com a ansiedade, o exercício de compreender e aprender com a sabedoria da vida, passa a ter utilidade para nós mesmos! Embora o mundo precise de uma grande massa de pessoas alinhadas a uma proposta de sociedade para girar a grande máquina da civilização, não podemos esquecer que também nascemos com uma missão única! Isto nos leva, individualmente, a seguir caminhos só nossos que podemos denominar de jornada solitária, uma caminhada que só nós mesmos devemos trilhar. Talvez um exemplo possa ilustrar essa questão:

“Em minha jornada pessoal, me sinto desamparado e solitário, muitas vezes apavorado com o que possa acontecer no próximo minuto. Essa sensação é parte de minha rotina de pegar estrada todos os dias, controlando o medo de algum acidente, atento para qualquer falha mecânica e, até mesmo, torcendo para que não seja uma última viagem sem volta.

Entretanto, embora possa parecer apenas sofrimento e labuta, esta rotina também tem seu lado romântico, que é poder assistir cada nascer e pôr do sol, e poder apreciar, a cada dia, um lindo quadro natural, enquanto me dirijo para o horizonte! Nestes momentos, sinto a presença do Criador de todas as coisas, que julgo estar dentro de meu coração e de todo ser humano, e ouço palavras sem forma, como sinais e percepções que se desdobram em temas para minhas reflexões, criando um ciclo de pensamentos sobre as coisas do mundo, sobre as pessoas e sobre mim mesmo!”

O mais interessante é que, às vezes, a única coisa capaz de explicar fatos e acontecimentos, são as lágrimas que hora são de alegria, hora de tristeza, de inconformismo ou de satisfação, de raiva ou de amor, de insegurança ou de paz, de presença ou de saudade, de incerteza ou de fé. E a conclusão óbvia é que a vida é muito maior do que podemos imaginar e que a aprendizagem é um processo interminável, enquanto existirmos.

 

A vontade da retribuição

Se um indivíduo segue um caminho só seu (jornada solitária), o compartilhamento dessa aprendizagem (retribuição) pode ser explicitado como o ponto onde o caminho individual converge novamente com a necessidade de girar a civilização, porém, de forma autêntica e libertadora. Ter saúde mental, muitas vezes supõe que precisamos nos alienar, nos afastar da realidade, negar o que nos incomoda, mas não é bem assim. Pela reflexão, ter saúde mental pode significar nosso livramento de amarras conceituais tendenciosas e liberdade para pensarmos por nós mesmos! É basicamente dizer não às imposições externas do mundo sobre a vida e nosso próprio ser!

Não significa que precisamos nos desconectar de outros seres humanos pois a maturidade vem exatamente dos relacionamentos interpessoais, mesmo que não queiramos. A solidão voluntária não faz sentido algum, se isto significar uma condenação de todos os demais seres humanos. Livrar-nos de preconceitos do senso comum, faz parte de nossa libertação interior.

Assim, quando lidamos com um sofrimento, uma dor ou uma dura lição da vida, acabamos nos tornando mais lúcidos, aumentamos nosso discernimento e isto é um bônus de nossa jornada solitária! O que nasce em nós, com isso, é um desejo natural de retribuição, onde sentimos uma necessidade de compartilhar a aprendizagem vivenciada e que se traduz por uma transformação prática do pensamento para a ação.

Ao mesmo tempo é um impulso de gratidão verdadeira, quando percebemos que uma descoberta pode ser compartilhada, em especial, com as pessoas que estão passando por momentos semelhantes ao nosso, o que se torna uma possibilidade de levarmos uma existência mais significativa, pela alegria genuína de nossos corações compartilhada com outras pessoas. Isto em si não faz parte de um objetivo utilitarista com segundas intenções, mas é apenas uma vontade de retribuição para o mundo.

 

O que é insanidade

Querer ser aceito por todos, querer entender tudo, querer mudar o mundo! Esses desejos são autênticos? Pode ser que boa parte destes sonhos individuais sejam apenas fantasias românticas e impossíveis, que servem para fugirmos de alguma insatisfação com o mundo ou com a própria vida. Quanto mais percebemos que a aceitação social e o pertencimento dependem de um comportamento padronizado e adequado aos valores modernos, mais nos convencemos que estamos à beira da insanidade!

Encontramos de tudo, desde os modismos e ideologias das diversas militâncias até os radicalismos separatistas que classificam os seres humanos por grupos econômicos de consumo. Não quer dizer que nada faça sentido para a máquina da civilização, que embola nossa humanidade com o jogo da posse e do poder material. O que não faz sentido, é acreditarmos em tudo o que está posto, como definitivo!

A ilusão da previsibilidade, a ilusão de nossas tecnologias, a ilusão do próprio senso comum do que é bom ou ruim, criado por uma minoria humana dominante, está passando dos limites. Está na hora de sairmos das programações, das artificialidades e nos voltarmos para nossos reais conflitos existenciais, pelos quais viemos resolver nesta vida.

 

Conclusão

Em meio às "insanidades modernas", caracterizadas pelo utilitarismo desenfreado e o bombardeio ideológico, a sanidade reside no controle das próprias emoções e pensamentos para desenvolver resiliência e paciência. A reflexão permite o livramento de amarras conceituais tendenciosas e a liberdade para pensarmos por nós mesmos. Embora não altere a realidade concreta, a "jornada solitária" leva ao aumento da lucidez e do discernimento, e a aprendizagem resultante motiva uma vontade de retribuição — o compartilhamento autêntico dessa sabedoria com o mundo, desvinculado de objetivos utilitaristas e impulsionado pela gratidão.


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